Estudo da Faculdade de Medicina propõe medida simples que eleva qualidade de vida dos pacientes cardíacos graves e traz economia para o SUS
Convencer os profissionais que trabalham com pacientes portadores de marcapasso a fazerem essa reprogramação é o próximo passo proposto pela cardiologista Leonor Rincón em sua tese. Foto: Bruna Carvalho-Medicina/UFMG
Uma alteração simples no marcapasso artificial, dispositivo eletrônico que controla os batimentos do coração por meio de estímulos elétricos, pode torná-lo ainda mais eficiente.
É o que propõe um estudo desenvolvido na Faculdade de Medicina da UFMG. Leonor Garcia Rincón (foto), em sua tese de doutorado na área deInfectologia e Medicina Tropical, sugere que os médicos programem o aparelho para fornecer apenas a energia necessária para regular o coração de cada indivíduo.
Esta medida pode ser determinada por meio do eletrocardiograma, um exame igualmente simples, possível de ser feito em consultório médico. O fato é que atualmente todo marca-passo sai de fábrica com uma única e determinada voltagem pré-configurada para seu funcionamento. Nem todos os pacientes precisam desse nível de energia.
O recurso, conhecido como “Busca da Condição Intrínseca”, ou BCI, pode elevar a vida útil do aparelho para nove anos, prolongando-a em torno de dois anos mais, sem trazer riscos ao paciente.
O estudo
Leonor Rincón, médica cardiologista do Serviço de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular do Hospital das Clínicas da UFMG e uma das responsáveis pela indicação de implante e controle de funcionamento de marcapasso artificial cardíaco, analisou dados de 30 pacientes, colhidos entre março de 2005 a junho de 2007.
Durante o estudo os pacientes foram submetidos a uma série de exames, como ecocardiograma e telemetria do marca-passo, para verificar o funcionamento de cada aparelho antes de serem reprogramados.
Após 60 dias com essa nova configuração os pacientes realizaram outros exames, a partir dos quais foi possível calcular a longevidade dos geradores de energia do marcapasso.
Benefícios
O orientador da pesquisa, professor Manoel Otávio da Costa Rocha, considera que a tese alcançou resultados originais e relevantes. Para ele, “há repercussões prováveis tanto do ponto de vista econômico quanto da preservação do bem estar dos pacientes”.
“O paciente ganha com a redução do número de cirurgias necessárias após a implantação do marcapasso”, destaca Leonor. “Quando a bateria acaba, é preciso trocar todo o aparelho, o que exige uma nova cirurgia”, esclarece.
Ainda segundo a doutora, a duração da bateria, em geral, é estipulada quando o aparelho é implantado no paciente. Em média, sete anos. Apesar de atualmente ser um procedimento relativamente simples, sempre existem os riscos inerentes a uma cirurgia, como a possibilidade de infecção, por exemplo.
Por isso, a mudança também é boa para o sistema de saúde pública. Atualmente, cerca de 3.500 pessoas fazem acompanhamento regular no Hospital das Clínicas da UFMG. “A reprogramação consegue reduzir em 22% o custo por paciente da implantação do marcapasso, uma economia de, em média, R$1,3 milhão por ano para o SUS”, explica a cardiologista.
Para Leonor Rincón, o desafio agora é convencer os profissionais que trabalham com pacientes portadores de marcapasso a fazerem essa reprogramação, que ainda não é um procedimento amplamente utilizado. Apenas após a publicação da pesquisa, ainda inédita, é que poderemos verificar a aceitação da técnica em outros grandes centros cirúrgicos.
Fonte: medicina.ufmg.br – Matéria reproduzida na íntegra